Na última terça-feira (18/06), a Câmara dos Vereadores aprovou o projeto de lei do potencial construtivo da reforma de São Januário, com 44 votos a favor. O texto final do projeto de lei foi publicado nesta quarta-feira (26/06 ), pelo Diário Oficial do Município, ele seguirá para sanção do Prefeito Eduardo Paes que terá 15 dias para assiná-lo. Dessa forma, o Vasco pode vender o potencial construtivo a uma empresa para iniciar as obras. A expectativa do plano da direção de Pedrinho (Presidente do clube) é começar a reforma do estádio em dezembro com previsão de término para 2027.
O potencial construtivo é uma ferramenta fundamental para o planejamento urbano sustentável, permitindo o controle sobre a densidade populacional, oferta de infraestrutura urbana e a preservação ambiental. Além disso, a sua gestão adequada pode contribuir para o desenvolvimento econômico e social da cidade.
Entorno de São Januário
Localizada na zona norte da cidade, a favela da Barreira do Vasco fica próxima ao estádio de São Januário e é uma área marcada por desafios socioeconômicos. Ela tem uma forte ligação histórica e cultural com o Vasco da Gama, por isso constantemente os jogadores do Vasco fazem incursões na comunidade, como a ação social da Páscoa em 2023, marcada por distribuição de bombons para crianças do local.
A proposta legislativa para a reforma do estádio de São Januário, vai além da modernização esportiva, ela fortalece a conexão entre o Vasco da Gama e sua comunidade. O plano da reforma é baseado no que foi apresentado pela WTorre, com capacidade para cerca de 48 mil torcedores. Para os moradores da Barreira, ela representa uma chance real de transformação social e econômica, como disse a moradora Vânia Rodrigues (Vaninha), Presidente da Associação dos Moradores da favela da Barreira do Vasco, durante em discurso na audiência pública sobre a reforma:
“Eu estou dentro da Barreira do Vasco. Eu costumo falar favela. Eu não vim falar, ah minha comunidade. Eu estou aqui para falar que a minha favela precisa de reforma. A minha favela precisa de uma reforma. A minha favela vai crescer junto com São Januário”.
Para moradores da Barreira, os jogos no estádio de São Januário são uma fonte vital de sustento para centenas de vendedores ambulantes que dependem da movimentação de torcedores para garantir sua renda. Esses trabalhadores informais desempenham um papel crucial no ecossistema ao redor dos jogos, oferecendo alimentos, bebidas e produtos diversos aos frequentadores do estádio.
Para muitos vendedores ambulantes, os dias de jogo são os mais lucrativos do mês. Segundo Maria dos Santos, moradora da Barreira e vendedora de pipoca há mais de dez anos, quando tem jogo, ela consegue vender em poucas horas o que levaria dias para vender em outros lugares. Os benefícios em dias de jogo vão desde o aumento da renda, oferecendo uma alternativa ao desemprego com a atração de milhares de torcedores que aumentam significativamente a demanda por alimentos e bebidas, o comércio ambulante impulsionando a economia local, circulando dinheiro e criando um ambiente vibrante ao redor do estádio e a oportunidade de empreendedorismo, por muitos, venderem produtos nos dias de jogo,
Em 2023 os moradores da Barreira foram prejudicados pela interdição do estádio. Após uma confusão dentro, e no entorno da colina histórica, em junho, em derrota do Vasco para o Goiás, em partida pelo campeonato brasileiro deste ano. O juiz de plantão do Juizado Especial do Torcedor e Grandes Eventos, Marcelo Rubioli, enviou um parecer ao presidente do Tribunal de Justiça pedindo que os fatos fossem enviados ao Ministério Público para apuração. Mas o magistrado gerou polêmica com suas falas preconceituosas em seu despacho, reproduzindo um discurso de marginalização em torno de uma periferia:
“…para contextualizar a total falta de condições de operação do local, partindo da área externa à interna, vê-se que todo o complexo é cercado pela comunidade da barreira do Vasco, de onde houve comumente estampidos de disparos de armas de fogo oriundos do tráfico de drogas lá instalados o que gera clima de insegurança para chegar e sair do estádio. São ruas estreitas, sem área de escape , que sempre ficam lotadas de torcedores se embriagando antes de entrar no estádio”.
Na ocasião a Associação dos Moradores da Barreira do Vasco emitiu uma nota de repúdio:
“Somos punidos sem sermos ouvidos a partir de uma visão distorcida da realidade que trata da mesma forma todas as comunidades do Rio de Janeiro. Além disso entendemos a interdição injustificada do estádio de São Januário causa prejuízos imediatos a todo o nosso comércio local, como bares, restaurantes, vendedores ambulantes localizamos na nossa comum, pois todos tiram grande parte de seu sustento em dias de jogos em virtude do fluxo de mais de 20 mil torcedores por partida”.
Demonstrando a incoerência na afirmação do juiz Marcelo Rubioli, uma pesquisa levantada pelo Instituto Fogo Cruzado, plataforma que produz dados sobre violência armada, mostrou que o número de ocorrências de tiros ao redor do estádio de São Januário, eram equivalentes aos números verificados nas proximidades do Maracanã. Nos dois locais foram feitos 22 registros de tiro até aquele período de 2023. Já no estádio Nilton Santos, em Engenho de Dentro, 16 ocorrências foram contabilizadas. A pesquisa levou em consideração um raio de dois quilômetros no entorno dos estádios.
Pedro Vinícius Lobo
Jornalista