Os primeiros dias de 2024 estão sendo marcados pela violência e violação dos direitos dos moradores do Jacarezinho, favela com cerca de 90 mil habitantes, localizada na zona norte da cidade.
De acordo com os moradores e lideranças locais, os intensos tiroteios iniciaram na virada do ano e acontecem há 23 dias consecutivos, prejudicando o comércio local, o direito de ir e vir, as férias escolares das crianças e a saúde mental do morador.
“Estado de calamidade. Já são + de 22 dias de operação policial, muito tiro em todos os pontos da favela, blindado, bomba, falta de luz e internet. Não existe nenhuma lei que resguarde 90 mil habitantes das inúmeras violações de direitos que estamos vivendo. Além disso, ainda tem o receio das chuvas, que podem chegar causando estragos por aqui. Parece um plano de genocídio de uma população inteira”, disse Natália Brambila, moradora do Jacarezinho.
De acordo com os dados do Instituto Fogo Cruzado, o Jacarezinho vive o pior início de ano desde 2016, entre todas as favelas do grande Rio.
“Moradores do jacarezinho denunciam a dias que a rotina da favela tem sido atravessada por tiroteios. Não tem sido possível sair e retornar para casa em segurança e ainda há áreas em que famílias também estão sem fornecimento de luz e água. Esse cenário de violação de direitos é absurdo. A política de segurança pública não pode seguir sendo pautada pelo confronto. É preciso mudar”, disse a deputada estadual, Renata Souza.
De acordo com a SuperVia, temporariamente não haverá circulação de trens do ramal Belford Roxo, no trecho entre Central do Brasil e Jacarezinho. Instituições locais também comunicaram a interrupção das atividades.
Veja o relato completo que a Comunicadora, atriz e articuladora cultural, Natália Brambila fez em suas redes sociais:
Complexo do Jacarezinho: A favela da Zona Norte do Rio de Janeiro que já está há 23 dias em Operação Policial.
A favela do Jacarezinho carrega muitos pronomes, surge na década de 20 e se torna um grande bairro industrial. Mas nossa história começa um pouco antes disso, com negros escravizados que vieram morar e se esconder no ponto alto da favela, região que até hoje é conhecida como Azul do Jacaré, primeiro local do morro a ser povoado. Hoje, somos o Quilombo do Jacaré, uma das favelas mais negras do Rio de Janeiro, e também mais violentada pelo Estado.
O rio que corta a favela, já foi fonte de sustento para os moradores, mas hoje em dia, é um grande valão a céu aberto. A estação de trem que passa na porta da favela, é sucateada, sendo um dos piores ramais da SuperVia. Dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) revelam que o Jacaré teve a maior taxa de diagnósticos positivos de Tuberculose. Acompanhado da maior chacina do Rio de Janeiro, quem em 5 de março 2021, matou + de 28 pessoas em uma incursão policial autorizada pelo Governador Cláudio Castro para implementação do Programa Cidade Integrada.
Quem ver esses dados, se pergunta, há vida em meio a guerra? HÁ!
Existem + de 90 mil habitantes que sobrevivem de forma invisível em meio a todas essas violações de direitos. Trabalhadores da cultura, da educação, da saúde, serviços essenciais para toda a cidade. Um comércio potente de empreendedores completamente frustrados, pais de família que vão beirando a pobreza alimentar, já que estão há 23 dias impedidos de trabalhar. Sem contar os prejuízos físicos, como postes de luz, rede de internet, caixas d’água, carros e motos de moradores destruídos por balas e pela passagem de blindados que circulam pela comunidade.
Prejuízos esses, que o Governo do Estado, não nos ressarce, assim como os danos psicológicos causados pela violência exacerbada!
Renata Dutra
Diretora de Jornalismo