Assim como nos últimos anos começamos mais um ano pedindo por justiça climática, logo no primeiro trimestre de 2024 nos deparamos com altas temperaturas pelo Brasil. No Rio de Janeiro, nas últimas semanas os termômetros atingiram a marca recorde de 40,3 ° C com sensação térmica de 62,3° C.
Ainda no primeiro trimestre do ano, as fortes chuvas também vem impactando a rotina de moradores da região Serrana, Baixada Fluminense e Região dos Lagos escancarando como o racismo ambiental prejudicam pobres, negros, moradores de favelas e de áreas precarizadas. Mais uma vez, as fortes chuvas que atingiram o estado do Rio de Janeiro deixaram mortos e feridos, além de centenas de pessoas desabrigadas. E enquanto muitos repetiam que a preocupação em torno da previsão do tempo era exagero, outras milhares de pessoas tiveram que assistir, mais uma vez, enquanto a água das chuvas invadia suas casas. E ninguém mora em situação de risco porque gosta de viver perigosamente. É porque faltam políticas públicas, assistência do governo e recursos para adaptar essas áreas e assegurar direitos básicos, que garantam uma vida segura e digna. Só no dia 22/03 por exemplo, onde precedeu o ponto facultativo imposto pelo Governador Cláudio Castro que estendeu por todo o Rio de Janeiro, as chuvas causaram a morte de 8 pessoas e o Corpo de Bombeiros afirmou que resgatou pelo menos 90 pessoas.
O racismo ambiental é uma realidade. Não se trata de os fenômenos naturais serem racistas, como costuma ser propagado para ironizar e diminuir o termo. A expressão se refere às vulnerabilidades nos territórios onde residem determinados grupos sociais. Não por coincidência, as pessoas mais afetadas pelas “catástrofes naturais” costumam ser negras e pobres. São elas que vivem em morros e áreas alagadiças, ao mesmo tempo em que suas ruas e casas não têm estruturas projetadas para momentos de chuva além da média, por exemplo. Contrapartida, no ápice do planejamento, com árvores e ar-condicionados sofisticados no bairro rico, a desigualdade sob distribuição do adensamento na cidade é muito desigual. Enquanto em algumas zonas se vive em casas onde não há espaço ou conforto suficientes, em áreas mais nobres se constroem apartamentos enormes onde moram apenas duas pessoas. Segundo dados do Censo IBGE 2022, cerca de 11% da população da região metropolitana do Rio não possuem ligação à rede geral de distribuição de água. Quase 1,3 milhões de pessoas precisam recorrer a poços, nascentes, carros-pipa ou outras formas para adquirir sua água diariamente. Destas, 68% são pessoas negras, um retrato de como as desigualdades e o racismo ambiental se materializam nos territórios. Itaboraí, Magé e Maricá lideram o ranking com mais da metade de população sem acesso à rede, seguidos de Rio Bonito e Tanguá. Em reportagem da agência Radioweb, produzida por Rafael Silva, o presidente da autarquia, Sydnei Menezes, afirmou que “o que existe hoje é uma previsibilidade da tragédia”. É o que nós chamamos de caos planejado porque todos nós sabemos onde são as áreas de risco e onde as pessoas estão morando indevidamente.
“Guaratiba registrou altas temperaturas, e a gente não pode tratar isso como natural ou como parte da paisagem carioca. Não há nada de cidade maravilhosa quando uma onda de calor leva dias com temperaturas altíssimas, de grande risco para a saúde e para a vida da população. Especialmente porque, diante dos reflexos das alterações climáticas com calor extremo e tempestades intensas, sofre quem vive em áreas precárias sem planejamento urbano e infraestrutura. E sabemos que a maioria dessas pessoas são pobres e negras. O racismo ambiental é um fato sobre a realidade tão desigual do Brasil. Quem está na Baixada Fluminense, por exemplo, foi fortemente afetado pelo calor, que muitas vezes vem combinado com a falta d’água e de luz. Assim como, foi também afetada pelas enchentes e deslizamentos nas tempestades de início de ano. Não observamos isso acontecer nas áreas nobres do Rio de Janeiro”, publicado pela deputada estadual, Renata Souza em suas redes sociais e mencionado em matéria de Renata Dutra sobre recorde de calor no Rio de Janeiro.
Em 2023 a Casa Fluminense lançou a 4ª edição do Mapa da Desigualdade, nela aponta que desde 2021 o município onde as pessoas mais foram afetadas pela chuva foi Nova Iguaçu e onde mais tiveram moradias afetadas pela chuva foi em Mesquita.
Até quando o poder público vai continuar ignorando as necessidades da população?
Pedro Vinícius Lobo
Jornalista