Mais de seis anos após o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, acusados pela execução do crime, serão julgados em júri popular, nesta quarta-feira (30).
A decisão de levar o julgamento ao tribunal popular é um marco em um processo que vem sendo marcado por reviravoltas, controvérsias e suspeitas de interferências políticas, que ainda hoje geram questionamentos sobre a condução das investigações e a segurança dos envolvidos.
O júri popular é uma resposta à cobrança por justiça e visa ouvir diretamente a voz da sociedade para julgar Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, acusados de participação no crime. Ambos são apontados como autores materiais do assassinato – Lessa seria o atirador, enquanto Élcio teria sido o motorista do carro que perseguiu Marielle. Apesar de os réus negarem envolvimento, a decisão de encaminhar o julgamento para um tribunal popular é uma tentativa de garantir a imparcialidade do julgamento em um contexto de forte pressão pública.
“Não tem como definir minha dor, tudo que eu passei durante esses mais de 6 anos.” Marinete da Silva, mãe de Marielle, durante o júri popular dos acusados de serem os executores do assassinato de Marielle e Anderson.
Monica Benício, vereadora do Rio e viúva de Marielle Franco, se posicionou em suas redes sociais:
“Eu passei os últimos 6 anos imaginando como seria o dia de hoje. Passei os últimos 2.422 dias lutando para que isso acontecesse. Fui a inúmeros países, incontáveis cidades, falei com milhares de pessoas. Hoje, tentando me concentrar no que será reviver tudo com riqueza de detalhes, eu só rezo para que acabe logo. Queria poder transmitir o sentimento de alívio que a condenação dos assassinos de Marielle e Anderson deveria trazer a nós, familiares. Mas a verdade é que é uma tortura passar tanto tempo sem respostas, tanto tempo esperando por um fiapo de esperança e, depois de tanto tempo, não deixar de acreditar que ainda há justiça nesse país. Me agarro ao fato de que sei que, apesar desse julgamento ser a exceção no país que mais mata defensores de direitos humanos no mundo, no país em que o próprio Estado patrocina o extermínio do povo preto e favelado, essa exceção é a chance de olharmos francamente para um novo futuro. Não porque eu acredito que acabará a impunidade, a imunidade e a seletividade, para isso ainda teremos muito o que lutar. Mas porque o que a luta por justiça por Marielle e Anderson ensina é que estamos atentos e somos as tais rosas da resistência que irrompem o asfalto seco e sem vida, às quais Marielle se referiu no plenário poucos dias antes da sua execução.’, publicou
Marielle Franco foi uma das principais lideranças políticas do PSOL no Rio de Janeiro. Eleita em 2016, a vereadora era conhecida pela atuação em defesa dos direitos humanos, especialmente em áreas marginalizadas e periféricas da cidade. Mulher, negra, LGBTQIA+ e vinda da Maré, Marielle se destacou como uma figura emblemática na luta contra a violência policial e pela valorização das favelas e das minorias. Seu assassinato comoveu o Brasil e gerou uma onda de manifestações nacionais e internacionais, reivindicando justiça e segurança para lideranças políticas e sociais em contextos de alta vulnerabilidade.
Você pode acompanhar ao vivo através do link: https://www.youtube.com/watch?v=d0QxfocLY7E
Renata Dutra
Diretora de Jornalismo