Na coluna Favela Sustentável da semana, vamos apresentar a iniciativa que em dezembro de 2024, completa um ano de atividades conectando outras iniciativas do Rio de Janeiro, o Fórum de Cozinhas Solidárias do Rio de Janeiro. Hoje conta com mais de 386 inscritos e mais de 400 pessoas participando ativamente.
As cozinhas solidárias são uma tecnologia social de combate à fome organizada por iniciativas populares que oferecem refeições gratuitas para grupos que se encontram em situação de vulnerabilidade socioeconômica e insegurança alimentar, além da população de rua. Pelo menos 468 mil domicílios se encontram em situação de insegurança alimentar moderada ou grave no Estado do Rio de Janeiro. É o que diz a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua 2023), 72,4% dos domicílios particulares brasileiros estavam em situação de segurança alimentar em 2023. A cozinha solidária opera de maneira voluntária, por meio da reunião de esforços de pessoas que se sensibilizam e querem fazer algo para mudar o contexto atual que assola vários territórios do Rio de Janeiro. Os recursos obtidos pelas cozinhas solidárias são na maioria através de doações de parceiros ou doações individuais.
Segundo Dani Lopes, diretora do Fórum de Cozinhas Solidárias do RJ, ele é um movimento que nasce da união e da necessidade de fortalecimento de voz e de participação política das cozinhas solidárias no Estado do Rio de Janeiro. Ele foi lançado em dezembro de 2023 na Fiocruz, na Escola Politécnica Joaquim Venâncio, onde lideranças populares tiveram uma formação para cozinhas solidárias. O Fórum conta atualmente com 386 inscritos e mais de 400 pessoas participando ativamente, sendo a maioria liderada por mulheres pretas na favela, uma dessas cozinhas é a iniciativa de Duque de Caxias, Cresce Comunidade atuante no bairro Corte Oito.
O Fórum vai de encontro à necessidade e ao diagnóstico das cozinhas, os equipamentos e os espaços territoriais de base das cozinhas solidárias, que fazem histórica e culturalmente o combate à fome no Estado do Rio de Janeiro, mas não somente isso, como também a organização, mobilização, incidência política com brilhantismo e com carga cultural e histórica. Centralizando espaços de tomada de decisão, de debate, de articulação política e de incidência nas políticas públicas e nos programas como agora o Programa Federal das Cozinhas Solidárias.
Iniciado a partir de um apoio às cozinhas solidárias operantes pelo Brasil através da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (SESAN/MDS), o Programa Cozinha Solidária, instituído pela Lei n°14.628/2023 e regulamentado pelo Decreto n°11.937/2024, tem por objetivo apoio para o desenvolvimento das atividades de produção e oferta de refeições de qualidade gratuitas à população, preferencialmente às pessoas em situação de vulnerabilidade e risco social, incluída a população em situação de rua e em insegurança alimentar e nutricional.
Pensando na ampliação do fortalecimento das cozinhas solidárias e Agricultura Familiar, Pequenos Produtores e Pescadores Artesanais, a Deputada Estadual Renata Souza, presidente da frente parlamentar de combate à fome, é autora da lei Nº 10.543/2024 que institui o programa estadual para a aquisição de alimentos da agricultura familiar e pequenos produtores e artesanais no âmbito do Estado do Rio de Janeiro. Considerando isso a diretora Dani Lopes comenta sobre o combate à fome e insuficiência alimentar com base na agroecologia, “ O Fórum trata as cozinhas solidárias por esse viés agroecológico de tecnologia social popular e ancestral e luta para que os conhecimentos agroecológicos cheguem a todas as favelas e seus moradores. A agroecologia é uma das grandes estratégias de enfrentamento à fome e racismo ambiental, porque é um instrumento de relação sob outra perspectiva, da população dos territórios de favela, com o alimento e o meio ambiente.
As hortas podem ser replicadas de forma fácil e praticamente sem custo, em escala individual, em vasos de planta e até em escalas maiores e coletivas que atendem um número maior de pessoas com alimentos saudáveis e sem veneno. Mas a agroecologia, é também a preservação das áreas verdes, é usufruir do que o território já oferece sem precisar plantar. Frutas como jaca, manga e banana, podem ser aproveitadas quase na totalidade. A jaca vira carne parecida com frango, a banana além de rica tem em sua folha, propriedades curativas.
A agroecologia é conexão com ancestralidade que olha pro mato que o vizinho capina e reconhece, remédios e pancs que são as plantas alimentícias não convencionais que dão no mato, no canto da rua, etc”, conclui a diretora.
No último sábado (26/10) o Fórum de Cozinhas Solidárias participou de uma roda de conversa com mulheres do Parque Paulista em Duque de Caxias promovida pela Casa Cuidado, no dia do cuidado. Na atividade o Fórum abordou na oficina construída com a Fiocruz a importância das cozinhas solitárias, no fortalecimento dos territórios e na relação com a agroecologia no sentido de enfrentar as questões climáticas , no racismo ambiental e de preservação da natureza dos territórios. É possível comer saudável preservando o meio ambiente e fortalecendo os vínculos territoriais. A iniciativa segue sua preparação para a participação no G20 Social e para receber o prêmio Periferia Viva e homologação de cozinhas gestoras.
Pedro Vinícius Lobo
Jornalista