O relatório realizado pela Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz, e divulgado no dia 10 de fevereiro, Dia Nacional de Combate à Covid-19 nas Favelas, apontou os impactos da saúde mental no período pandêmico.
O Plano Fiocruz de Enfrentamento à Covid-19 nas favelas do Rio de Janeiro, tinha por objetivo promover o direito à saúde nas favelas onde vive parte significativa da população em situação de maior vulnerabilidade no estado, com a missão de apoiar tecnologias sociais para o Sistema Único de Saúde – SUS. Com isso, com um esforço institucional da Fiocruz, UFRJ, UERJ, PUC –Rio, Abasco, SBPC e organizações de favelas de todo o estado do Rio de Janeiro, provenientes da Lei Nº 8.972/20, foi aberta a chamada pública de apoio para ações emergenciais de enfrentamento à covid-19. Foi destinado 17 milhões para organizações da sociedade civil com projetos de vigilância em saúde de base territorial, ou seja, 104 projetos aprovados na primeira etapa, 54 organizações receberam apoio financeiro e 40 organizações aguardam a liberação orçamentária. Destes projetos, 70% são voltados a saúde mental.
O deputado Flávio Serafini falou sobre os impactos da saúde mental “Nos últimos 6 anos nós temos sofrido no Brasil um desmonte de toda política de saúde mental. Desde o governo Temer nós tivemos os recursos voltados para a saúde mental diminuídos. Agora nossa expectativa é reverter esse quadro de desmonte e caminhar para consolidar um rede de atenção nos territórios. Porque quando a gente não consegue consolidar a rede nos territórios os quadros de saúde se agravam”, diz.
A Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde – BVSMS , divide a pandemia em 4 ondas: a primeira se refere à sobrecarga imediata sobre os sistemas de saúde em todos os países que tiveram que se preparar às pressas para o cuidado dos pacientes graves infectados pela Covid-19; a segunda está associada à diminuição de recursos na área de saúde para o cuidado de outras condições clínicas agudas, devido a realocação de verba para o enfrentamento da pandemia; a terceira tem relação com o impacto da interrupção nos cuidados de saúde de várias doenças crônicas; a quarta inclui o aumento de transtornos mentais e do trauma psicológico provocados diretamente pela infecção ou por seus desdobramentos secundários.
Além disso, afirma que o distanciamento social alterou os padrões de comportamento da sociedade “Com o fechamento de escolas, a mudança dos métodos e da logística de trabalho e de diversão, minando o contato próximo entre as pessoas, algo tão importante para a saúde mental. O convívio prolongado dentro de casa aumentou o risco de desajustes na dinâmica familiar. Somam-se a isso as reduções de renda e o desemprego, que pioram ainda mais a tensão sobre as famílias. E, ainda, as mortes de entes queridos em um curto espaço de tempo, juntamente à dificuldade para realizar os rituais de despedida, dificultando a experiência de luto e impedindo a adequada ressignificação das perdas, aumentando o estresse”, afirmou a BVMS
Quando se trata de favela, os números são ainda mais alarmantes. De acordo com o Instituto Humanitas Unisinos – IHU, 80% dos moradores de favelas entrevistados, apontaram que não conseguiram manter o isolamento social e 45% afirmaram que pessoas da sua casa contraíram a doença. Já em relação as mortes, 55% disse ter perdido um ente querido.
E em relação a saúde mental, a pesquisa revelou que 52% sentiram ansiedade; 41% sofreram de nervosismo. Não sem motivo: 70,4% temeram não ter dinheiro para sustentar a família; 61,1% preocuparam-se em não ter alimento suficiente – 48,4% tiveram a renda diminuída por causa da pandemia. 74% dos participantes alegaram não ter recebido qualquer suporte de assistentes sociais ou psicólogos.
A Fiocruz realizou também um estudo, com profissionais de saúde, e aponta que 65% apresentaram sintomas de transtorno de estresse, 61,6% de ansiedade e 61,5% de depressão. Sintomas de ansiedade classificados como extremamente severos foram relatados por 33,8% dos participantes. Esse percentual foi de 21,4% e 19,5%, respectivamente, para sintomas extremamente severos de depressão e estresse.
Matéria publicada dia 28/02/23