Em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, Um projeto social de suporte para diaristas está tornando realidade o trabalho de muitas mulheres diaristas. A Frô Urbana é um projeto empreendedor que teve início na necessidade de se manter uma renda mínima em meio a uma situação de desigualdade racial, gordofobia e falta de oportunidades por muitas diaristas serem mães de criança.
Atualmente, este projeto empreendedor desenvolve estruturas para que sejam possíveis outras profissionais se beneficiarem em uma equipe de diaristas. A proposta é dar maior segurança aos profissionais e promover o encontro de clientes no perfil adequado para que o trabalho se desenvolva de uma forma tranquila, honesta e devidamente remunerada.
A empreendedora idealizadora deste projeto, Arlete Lima, tem 30 anos de idade e uma filha, Elis Regina, de sete anos. Ela contou para o Portal Favelas como teve a ideia empreendedora de criar o projeto , “ primeiramente, sou uma pessoa preta, isso por si só já traduz todas as experiências que irei vivenciar nessa existência , onde se predomina o conceito colonizador e suas faces de repúdio ao que é contrário sua ideologia eugenista. Me relaciono com mulheres, sou mãe de uma criança preta, empreendedora, com várias qualificações profissionais, como toda preta em diáspora, ou não, pq a excelência em todas as instâncias nos pertence de forma civilizatória latente.
Gosto de pensar sobre a infância em seu processo natural de uma pessoa e de como sociedades adotaram esse estado de infância como algo natural para se vivenciar constantemente. Questionadora das modalidades do ultra modernismo que vivenciamos e essa desenfreada globalização.
Acredito que o grande salto nas esferas políticas do Brasil, se dará, na adoção profunda e absoluta da racialização no resgate das origens ancestrais de forma honesta, justa e igualitária. Sendo uma pessoa que passou pelas ruas por vulnerabilidade social, questiono as oportunidades oferecidas pelo Estado em forma de equipamento público, acredito que apenas nós seremos capazes, da imersão de nosso povo preto. Vivendo da minha maneira e sendo o melhor que posso ser em respeito a mim e a ancestralidade que me trouxe até aqui”, conclui Arlete.
A empreendedora conta que ouvindo as narrativas, existem diversos episódios catastróficos de falta de respeito , péssimas condições de trabalhos analógicos ao escravo . Por isso , a união de um povo, é mais do que diminuir a solidão, é fornecer apoio moral e solidário a uma causa comum e bem específica. Para ela estar em equipe, além de ter essa segurança de unificação, é saber o que realmente uma diarista pode enfrentar estando em uma casa alheia, mesmo que prestando um serviço. Devido ao seu vasto conhecimento sobre questões raciais, a empreendedora ministra constantes palestras para as diaristas, a fim de que saibam as formas de se protegerem coletivamente. Os clientes recebem instruções de como receber a profissional, e ao longo do dia fazem check list e observações para garantir que está tudo bem.
Arlete lembra que a Frô Urbana trabalha de forma bem particular, pois “a diarista mantém contato via WhatsApp, diferente de empresas, não cortamos o acesso a internet e redes sociais. Essa é uma forma cautelosa de não deixar a diarista sozinha e sem comunicação. Uma pessoa que conhece sua História e sabe de suas origens gloriosas, dificilmente se deixará ser diminuída ou ser exposta em situação vexatória como receber comida estragada por exemplo. Saber se posicionar é uma liberdade que precisamos exercitar”.
A Caxiense Arlete Lima , racializa o setor por ele sempre ser racializado na narrativa branca . A empreendedora e diarista conta que os serviços domésticos, sempre foram vistos como algo ruim, indigno de ser feito por pessoas com alguma estigma de nobreza, pelos olhares ocidentais. Sempre houve uma falta de valor para o cuidado do lar , sendo designado para pessoas escravizadas. A partir da colonização , aqui no Brasil, os serviços de cuidado com a higiene e manutenção da casa, deixam de ser um ato coletivo e passam a ser exclusividade de trabalhos forçados. Para a empreendedora , racializar é em primeiro lugar empoderar, mostrando que esse conceito de trabalho sofrido, cruel, árduo e exaurido, é algo recente, com a colonização. Ela também complementa falando sobre o cuidado com o lar ser feito por mãos consagradas, por pessoas de confiança, afinal, são contatos com objetos, passando em espaços com intensas energias. Em uma cosmovisão afrikana, a limpeza do lar é fundamental para uma vida em harmonia. Não existe nada de indigno nisso. É virtuoso ser faxineira. É necessário essa ressignificação e em bom tom Arlete diz , ” lutamos por aquilo que sentimos orgulho”.
Sobre toda a questão racial em cima do trabalho , ela também fala, ” fornecemos ao nosso cliente, um serviço honesto, cuidadoso e profissional. Atualmente nossos clientes são LGBTQi+ e de religiões de matriz afrikana ou diversas, fora do cristianismo, nos buscam, pois sabem que não terão problemas com racismo ou preconceito.
A racialização também é eficaz contra problemas de tratamento e postura, a cliente que nos procura, já entende nossos conceitos progressistas e decoloniais. Transtornos como horários, condições de saúde e bem estar da profissional, são superados mediante uma nova postura, não vamos esperar que outrora patroas com condutas de sinhá, modifiquem o cenário”.
Empreendedorismo negro periférico e perspectiva de vida, juntos lado a lado , faz da Frô Urbana um projeto inovador e estimulante contra a ruptura do racismo estrutural, além de pensar na renda circulando nas mãos de mulheres negras que juntas com pardos constituem a maioria da população brasileira , mas nas posições de liderança essa mesma comparação não se evidencia.
Voce quer conhecer um pouco mais sobre o projeto FrôUrbana? ciique aqui https://instagram.com/frourbana?utm_medium=copy_link