Nesta segunda feira, dia 15 de julho de 2024, foi publicado um Edital inédito no Estado do Rio de Janeiro que contempla 100 bolsas de extensão para mães de Vítimas da Violência do Estado, que receberão 700 reais mensais, por um ano, renovável por mais um, para serem pesquisadoras da UFRJ do Instituto de Psicologia, no programa de pós graduação em Teoria Psicanalítica. Essas bolsas estão vinculadas ao Termos de Execução Descentralizado entre a UFRJ e o Ministério da Justiça para financiamento da Ampliação da Rede de Pessoas Afetadas pela Violência do Estado (RAAVE).
As mães participarão de uma pesquisa que se realizará ao longo de dois anos, que visa a implantação de uma política pública vinculada ao SUS e ao SUAS que fortalece o acesso à Justiça para casos de pessoas que sofrem toda sorte de agravo em Saúde Mental, por ter tido um familiar vitimado por ação letal de agentes públicos. Este Programa, portanto, trabalha para modificar a lógica colonial e escravocrata que funda o Estado necropolítico brasileiro, que se atualiza com os constantes ataques das ações policiais à população pobre que habita os territórios periféricos. Ao invés de defender o povo trabalhador do crime organizado, que aumenta no Rio de Janeiro de forma galopante, sobretudo tomando setores do Estado, a ação policial cada vez mais criminaliza as populações vulnerabilizadas.
O projeto pretende reverter essa lógica colocando a inteligência brasileira, no centro da intervenção, a partir da sabedoria e conhecimento do próprio morador e moradora, sobretudo das mães de vítimas, que vivem nas favelas e periferias do Rio em permanente estado de sofrimento, medo, silenciamento e angustia. Mas ali onde se esperaria o desamparo e a melancolia, surge uma rede que transforma o luto em luta, costurando invenção coletiva entre àqueles que vem protagonizando um outro modo de conceber a segurança pública, a saber; através de uma política ligada aos direitos humanos, às redes de proteção popular e sua parceria com as redes públicas de saúde, assistência, justiça e educação.
O ineditismo do projeto amplia a política de cotas na extensão universitária, que conta com a comissão de heteroidentificação da UFRJ e chega a 50% de vagas para pessoas negras e indígenas. Numa direção de decolonização dos saberes universitarios e dos processos institucionais, clínicos, políticos e teóricos no campo da Psicologia e da Saúde Mental, a RAAVE inova também na articulação dos setores populares de luta política com pesquisadores e alunos(as). 32 estudantes de graduação em psicologia e pesquisadores de mestrado e doutorado da UFRJ e da UFF (em quatro projetos de pesquisa e extensão) também são contemplado com bolsas, de forma a ampliar a escuta, acolhimento e o cuidado dos familiares de vítimas nos territórios de favelas e periferias cariocas, além de estarem juntos das mães e demais membros da RAAVE, tecendo metodologias para uma ação interdisciplinar efetiva, não apenas no acolhimento a quem passa pela perda de um familiar, mas também na transformação dos modos de ação da justiça voltados para as políticas populares de inclusão e segurança pública.
O Projeto Ocupação Psicanalítica RJ através do projeto de extensão “Psicanálise e Decolonização: clínica, comunicação popular e escrevivências” (PPGTP/ Instituto de Psicologia) se articula com o Portal Favelas na realização da tarefa de articulação dessa verba com o Ministério da Justiça e enquanto parte da RAAVE. Se incluem junto aos 3 outros projetos da UFF que recebem financiamento e portanto, entre os doze grupos clínico-políticos que compõem a rede, juntamente com mães numa coordenação Colegiada do projeto.
Os doze grupos que compõem a rede são: Acolhimento aos afetados pela violência de Estado: Atravessamentos entre clínica e política – PUC-RJ; Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro – Clínica Social; Formação Livre em Esquizoanálise; Instituto de Estudos da Complexidade – IEC; Núcleo de atenção psicossocial a pessoas afetadas pela violência de Estado – NAPAVE; Núcleo de Atendimento Municipal a Vítimas de Violência de Estado e seus Familiares – NAMVIF; Núcleo de Psicanálise e Política – NUPP, UFF; Núcleo Universidade, Resistência e Direitos Humanos/ URDIR, UERJ; Observatório Nacional de Saúde Mental e Direitos Humanos, UFF; Projeto de Pesquisa e Extensão Psicanálise e Decolonização: clínica, comunicação popular e escrevivências (Ocupação Psicanalítica RJ), do Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica da UFRJ; Projeto de Extensão Grupalidade e Potencialização Subjetiva, UFF; Psi Maré. As instituições que também participam da Rede como parceiras são: Conselho Regional de Psicologia CRP/RJ, Coordenação de Cooperação Social da Presidência/Fiocruz, Redes da Maré e seção de São Gonçalo da Federação de Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (FAFERJ de São Gonçalo).
Não deixe de conhecer este edital e compartilha-lo, fazendo parte dessa rede de mudança no cenário de Violência e horror que tomou o Rio de Janeiro, para que mais mães tenham acesso a ele e possam concorrer às cem bolsas que estão disponíveis pelo Ministério da Justiça.
– Inscrições abertas de 15 a 22 de julho de 2024.
– Para se inscrever, acesse: https://bit.ly/EditalDasMaes
– Edital completo: https://bit.ly/EditalRaaveUFRJ
Informações sobre a bolsa:
– Objetivo do programa: contribuir para o aperfeiçoamento das políticas públicas de saúde psicossocial de famílias afetadas pela violência no Estado do Rio de Janeiro, entre outros.
– Total de vagas: 100.
– Valor R$700,00 por mês.
– Período: 1 ano, podendo ser prorrogado para até 2 anos.
– Carga horária: 20h semanais
– Disponibilidade: 2 encontros presenciais por mês na UFRJ ou outro local definido com antecedência, além de outras tarefas entre um encontro e outro.
– Quem pode se inscrever: Mulheres (cis ou trans), maiores de 18 anos, residentes no Estado do Rio de Janeiro, que sejam mães de vítimas da violência letal de agentes públicos.
– Instituto de Psicologia da UFRJ.
Como se inscrever:
– Preencha o seguinte formulário até o dia 22/07/2024: https://bit.ly/EditalDasMaes
Leia aqui o edital completo:
– Edital: https://bit.ly/EditalRaaveUFRJ