O Estado do Rio Grande do Sul vive um estado de emergência climática. O Estado foi atingido na última semana por fortes chuvas que causaram enchentes, rompimento de barragens, elevação de rios, quebra de pontes e estradas, pontos ilhados e pelo menos 203,8 mil pessoas estão fora de suas casas, mais de 48,1 mil estão em abrigos e 155,7 mil estão nas casas de familiares ou amigos.
O governo federal decretou estado de calamidade pública e junto com STF e Congresso , mantém esforços para flexibilizar a liberação rápida de verbas para o Rio Grande do Sul. Pelo menos 1640 policiais federais e rodoviários, bombeiros e agentes da Força Nacional foram enviados pelo Ministério da Justiça para atuar no resgate das vítimas da chuva. Celebridades e coletivos também têm se comprometido para ajudar através de atuação direta como voluntária em centros de abrigo ou com doações.
Além do desastre climático afetar 388 municípios gaúchos, as enchentes também afetaram mais de 80 comunidades e territórios indígenas, representando 8 mil famílias. Um levantamento colaborativo entre Conselho Indígena Missionário (Cimi), Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), Fundação Luterana de Diaconia, Conselho de Missão entre Povos Indígenas e Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (FLD/Comin/Capa) e Conselho Estadual dos Povos Indígenas do Rio Grande do Sul (Cepi/RS) indica que as Comunidades dos povos Guarani Mbya, Kaingang, Xokleng e Charrua, espalhados em 49 municípios do Estado, são as mais impactadas da região . Boa parte desses povos indígenas precisaram deixar suas casas para se deslocar para áreas mais elevadas, por causa do risco de alagamento e deslizamento de terra. Ao menos 9 aldeias também estão em situação crítica e de extrema vulnerabilidade: Pindo Poty, no Lami (Porto Alegre), com 14 famílias removidas para alojamento; Pekuruty, Arroio da Divisa (Eldorado do Sul), com 7 famílias em abrigo; Terra Indígena Pacheca (Camaquã), com famílias isoladas; Tekoa Ka’aguy Porã (Passo Grande, Barra do Ribeiro), com 11 famílias em abrigos provisórios e uma família isolada na aldeia; comunidade de Nhu’u Porã (Barra do Ribeiro), que sofreu estragos com as chuvas e ventos, Ko’enju (São Miguel das Missões), que sofreu estragos com chuvas e ventos; Tekoa Guavayvi (Charqueadas), que se encontra isolada e sem acesso à água potável ou à alimentação; Tekoa Arasaty (Capivari do Sul), com 9 famílias enfrentando o alagamento da aldeia; comunidade de Ponta do Arado (Porto Alegre), que se encontra em situação de alagamento e vulnerável ao elevamento do nível do Rio Guaíba, cuja previsão indica que ultrapassará o recorde do ano de 1941, ano em que ocorreu a maior enchente na Capital até então.
Muitas Comunidades Quilombolas também foram afetadas pelas enchentes, quem vive nos quilombos sofre frequentemente com os desequilíbrios climáticos e convive historicamente com diferentes impactos negativos causados pelas chuvas. Essa é a avaliação de Roberto Potácio Rosa, membro fundador da Federação das Comunidades Tradicionais Quilombolas do Rio Grande do Sul. Ele vive na comunidade de São Miguel, no município de Restinga Seca, na região central do Estado. “Sabemos que as comunidades quilombolas urbanas, na região metropolitana de Porto Alegre, em Canoas, Chácara das Rosas e outras ali perto estão em situação grave. Há moradias submersas e pessoas em abrigos. No interior, temos poucas informações, porque estamos sem contato. Não temos uma qualidade de sinal lá para poder fazer a devida comunicação. Mas é uma situação muito preocupante”, conta Potácio.
O Ministério da Igualdade Racial informou que está monitorando a situação, especialmente em comunidades quilombolas, ciganas e povos tradicionais de matriz africana e de terreiros atingidos pelas enchentes. Garantiu que tem articulado com outros ministérios e movimentos sociais o envio de cestas básicas e itens de primeira necessidade.
O Rio Grande do Sul tem mais de 7 mil famílias quilombolas e aproximadamente 1.300 famílias de comunidades tradicionais de matriz africana e terreiros. E muitas delas como o Quilombo do Machado estão ilhadas, sem acesso à água, energia e alimento.
Vale ressaltar que ano passado uma série de desastres climáticos também causou devastação no Estado. Foram registradas 16 mortes em junho, 54 em setembro e 5 em novembro. O que valeria um olhar mais sensível sobre as mudanças climáticas. Mas neste ano de 2024, o orçamento do Governo do Estado do Rio Grande do Sul para a compra de equipamentos da Defesa Civil foi de apenas 50 mil reais. O primeiro mandato do Governador Eduardo Leite (PSDB) alterou 480 pontos do Código Ambiental de uma só vez. O orçamento do estado para 2024 prevê só 0,2% dos recursos no combate à crise climática. Isso significa que dos 83 bilhões de reais do orçamento, só 157 milhões estão em áreas ligadas à crise climática.
Saiba como doar para coletivos comprometidos em ajudar quem está sofrendo com os impactos dos alagamentos no Rio Grande do Sul:
Coletivo Afrika Sulista – Pix para doação 5399131 ; em nome de Murilo Trindade
Articulação dos povos Indígenas do Brasil (Apib) – pix pra doação da
ARPINSUL: 566601e8-72b1-4258-a354-aa9a510445d1
CGY: 21.860.239/0001-01
Quilombo dos Machado – pix para doação quilombodoemachado@gmail.com ; Vanda Tamires da Silva Antunes
Federação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Rio Grande do Sul ( FACRQ/RS) – pix para doação 46829258/0001-04
Retomada Gãh Ré Kaingang – pix para doação 34902236087 ; Iracema Nascimento
Retomada Xokleng Konglui – pix para doação [email protected] ; @xoklengsaochico
Retomada Nhe Engatu – pix para doação 03287433059 ; Laércio Gomes Mariano
Central Única das Favelas (Cufa) – pix para doação [email protected]
Campanha Comissão Guarani Yvyrupa (CGY) – pix para doação 21.860.239/0001-01
Pedro Vinícius Lobo
Jornalista