Nesta segunda-feira (06), Rede formada por movimentos de mães e familiares de vítimas da violência de estado e grupos clínicos de saúde psicossocial ligados a universidades e a sociedade civil, protocolou no Ministério Público Federal pedido de reavaliação dos arquivamentos de mortes provocadas por operações policiais no Rio de Janeiro. O pedido foi feito justamente na data marcada pelo aniversário de 3 anos da chacina do Jacarezinho, a operação mais letal da história do Rio de Janeiro, provocando 28 mortes.
“Estamos aqui reforçando o movimento de mães, não estamos aqui falando sobre sobre os nossos, mas sim das nossas companheiras. Eu gostaria de reforçar a fala dos nossos companheiros que vocês venham revisar os arquivamentos da chacina do jacarezinho, que faz hoje (06/05) 3 anos. Algumas dessas mães do jacarezinho já estão mortas, porque não aguentou nem o arquivamento, nem a dor do luto, nem vim pra luta, e agora vamos passar pelo processo de exumação. Há três anos, essas mães estavam enterrando os filhos no dia das mães e agora esse mês das mães, elas vão estar passando pelo processo de exumar. Somos nós, mães de vítimas da violência do Estado, que vamos estar lá com essas mães.” disse Bruna, que teve seu filho assassinado quando saia da escola. Marcus Vinicius estava com uniforme da escola no momento em que foi morto.
O Procurador da República Eduardo Benones recebeu o documento em mãos da comissão da Raave e se comprometeu a realizar reunião com a Rede para pensar desdobramentos do pedido, o encontro está previsto para ocorrer na semana que vem.
A solicitação tem como fundamento as investigações do caso Marielle, em que a Polícia Federal indica participação de membros da polícia civil e outras autoridades estaduais no assassinato da vereadora e na obstrução das investigações. Tais elementos reforçam desconfiança de movimentos de mães e familiares, que historicamente apontam inúmeros problemas nas investigações de mortes ocorridas em operações policiais.
“Hoje (06/05), está completando 4 anos que o meu filho foi brutalmente assassinado pela PM em Nova Iguaçu, quando voltava de uma festa. Mas para além da minha história pessoal do que aconteceu comigo , mas quero reforçar a questão de que ‘não tinha passagem’, acaba que de fato a gente não pode ficar reproduzindo isso porque dá munição. A primeira coisa que temos que pensar é que não temos pena de morte no Brasil. Isso é o principal argumento que a gente tem para ir contra essa narrativa”, diz Catarina Ribeiro
Segundo o documento produzido pela RAAVE, arquivamentos indevidos de homicídios produzem danos enormes à saúde psicossocial de familiares, além de inviabilizarem o exercício dos direitos à Verdade e à Memória, pilares fundamentais da Justiça de Transição e da democratização brasileira.
“Precisam ser avaliados por forças federais para entender por que não estão andando ou por que foram arquivados apesar de muitas vezes terem provas que possibilitariam a identificação de responsáveis, de autoria e etc”, disse Guilherme Pimentel, Coordenador Técnico da Raave.
Se acatado, além de garantir o acolhimento das famílias e o reconhecimento da violência, o pedido pode revelar novos elementos dos esquemas de acobertamento de grupos de assassinos ligados a autoridades públicas e pessoas poderosas no estado do Rio de Janeiro.
Matéria escrita em colaboração de Rafaela Leocadio e Vitória Natália, psicólogas do Portal Favelas e Ocupação Psicanalítica
Fonte: Raave