Nesta quinta-feira (09), a RAAVE – Rede de Atenção a pessoas Afetadas por Violência do Estado, fará uma reunião aberta de apresentação, às 10H, na UERJ, auditório 11. A iniciativa envolve 13 grupos que fazem atendimento psicossocial de vítimas de violência do Estado, e tem como objetivo promover o acolhimento psicossocial de pessoas que sofreram com essa violência.
A RAAVE é um projeto voltado para o cuidado psicológico de quem teve seus direitos violados ou que vive em situação de vulnerabilidade social, e visa ampliar o acesso aos cuidados, promovendo, de forma gratuita, atendimento terapêutico continuado para quem desejar.
“A RAAVE é uma iniciativa de construção de política pública, esse tipo de atendimento psicossocial aliado ao atendimento jurídico da defensoria, que também presta serviço público, é o tipo de política pública que para um país como o Brasil, que possui taxas elevadíssimas de letalidade policial, deveria ser uma prioridade dentro de um pacote de prioridades da reversão do extermínio da população brasileira, em especial da população negra, e de cuidado com as pessoas que sofreram esse tipo de barbárie”, disse Guilherme Pimentel, ouvidor da defensoria pública.
Ainda segundo Guilherme Pimentel, esse é o tipo de iniciativa que está dentro da ideia de verdade, memória, justiça e reparação já que constitui uma política pública de reparação psicossocial e também de acompanhamento para que as famílias e assim os coletivos tenham força na sua luta política:
“Essa rede construída por 13 grupos clínicos, algumas instituições da sociedade civil, universidades públicas e a Defensoria Pública, é uma iniciativa importante e que vem construindo junto com os movimentos de familiares de vítimas da violência do Estado. Esse tipo de abordagem e de metodologia, que a gente pretende que se torne uma política pública do SUS em breve”, finalizou.
Com a apresentação da iniciativa, se inicia o processo da radicalização da participação dos familiares para a construção dessa política. Serão oferecidas bolsas para mães das vítimas de letalidade do Estado, além de bolsa para estudantes de graduação e pós em psicologia para atendimento nas favelas.
A ampliação do projeto se deu via Ministério da Justiça e tem parceria com o programa de pós-graduação em Teoria Psicanalitica da UFRJ. O responsável pelo convênio com o Ministério junto a defensoria será o Ocupação Psicanalítica (programa de extensão da UFRJ)
“Essa parceria permite a gestão da verba para fomentar um apoio para que essa rede que já existe se consolide. A verba vai nos permitir pagar bolsas para os alunos irem até as favelas, e não a favela ir a universidade como geralmente acontece, ou seja, permite que os psicólogos e estudantes da área de saúde mental estejam dentro das favelas, dentro dos espaços onde a população seja mais próxima, e entenda as razões do que a população sofre. Não basta só escutar o sintoma e depois do acontecido, depois da chacina, é preciso construir junto aos moradores dispositivos, metodologias que impeçam as ações policiais acontecerem”, diz Mariana Mollica, professora colaboradora do Programa de pós graduação em Teoria Psicanalítica da UFRJ e pós doutoranda Sênior da FAPERJ
Para a professora Mariana Mollica, a própria favela tem soluções para essas situações, e cita a importância da comunicação popular:
“Para impedir essas situações, a favela tem ideias e invenções históricas e outras inovadoras, por exemplo a comunicação popular. A gente aposta por exemplo que as redes de Tvs e jornais comunitários sirvam como um meio de expressão de pessoas que são historicamente silenciadas, principalmente pessoas negras e indígenas, que possa haver registro da violência, do que é apagado pelo jornal tradicional”, contou.
De acordo com a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, a RAAVE é um projeto que vem potencializar o acolhimento da Defensoria Pública e destaca-se em seus princípios a defesa intransigente e valorização do serviço público; a promoção e proteção dos Direitos Humanos; a defesa inegociável do regime democrático; o respeito à liberdade religiosa e ao Estado Laico; e o compromisso com o combate ao racismo, ao machismo e à LGBTQIA+fobia.
Seu lançamento aconteceu no dia 14 de setembro de 2022, em um evento na sede da DPRJ, e contou com a participação de representantes da Instituição, de movimentos sociais, da sociedade civil, além de familiares das vítimas.
RAAVE é homenageada na Câmara Municipal do Rio de Janeiro
A Rede de Atenção a Pessoas Afetadas pela Violência do Estado, recebeu a moção de reconhecimento a coletivos que atuam por memória, verdade e justiça. A homenagem foi proposta pela vereadora Luciana Boiteux e aconteceu no dia (01/11), Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
A homenagem é uma ação que marca a importância da pauta para a sociedade brasileira de diferentes construções de movimentos históricos e contemporâneos. “São coletivos e entidades que já vem a alguns anos, não só no enfrentamento e na necessidade do Brasil fazer efetivamente uma transição em memória da ditadura, mas também das violações dos direitos humanos recentes que acontecem todos os dias nas favelas, na questão da população negra. Então a homenagem é sempre um momento de lembrar , reconhecer e fortalecer o trabalho tão importante que já vem sendo realizado. São várias entidades, todas com uma grande contribuição para dar”, diz Luciana Boiteux.
A professora Mariana Mollica comentou sobre a importância da moção:
“É histórico. É a primeira vez que a gente vê aqui na Câmara um acolhimento não só daqueles grupos históricos da época da ditadura, mas também dos grupos de hoje. De um trabalho que se dá a partir de pessoas pretas, de favelas, de aldeias e minorias populares”, disse.
Assista a homenagem na íntegra: https://m.youtube.com/watch?si=DRBBzugYRbp6FzeB&v=JlHGWWSeD6k&feature=youtu.be
Confira no instagram: https://www.instagram.com/p/CzXaeXFpjDv/?
Renata Dutra
Diretora de Jornalismo