Na última sexta-feira, (29/09), a Exposição “Funk: Um grito de ousadia e liberdade” agitou a zona portuária do centro do Rio. Com curadoria de Taísa Machado e Dom Filó, a mostra conta também com a colaboração de consultores, como Deize Tigrona, Tamiris Coutinho, entre outros artistas do funk.
Segundo Taísa Machado, a mostra é uma homenagem ao poder transformador da cultura popular, à criatividade inesgotável das favelas e à música que uniu gerações de cariocas.
Na exposição o público pôde interagir com algumas instalações, ouvir música e dançar, além de contar com um espaço com mais de 900 itens expo gráficos de mais de 100 artistas brasileiros e estrangeiros ocupando duas salas do museu.
Uma dedicada ao soul, estilo norte americano que influenciou o ritmo carioca e brasileiro através das festas dos anos 70 e 80. E a segunda sala é dedicada aos bailes das favelas cariocas, com destaque a força feminina no funk e muito mais.
Uma das artistas com trabalho exposto na mostra, Rainha F, cria da zona oeste de Realengo, contou sobre sua participação. A artista de 31 anos teve início no mundo da arte através de um trabalho em que confeccionou um vestido de noiva e o vestiu no lugar onde acontecia a exposição (Museu de Arte do Rio). Seu próprio corpo foi o expositor de sua obra desenvolvida. Durante os 5 anos que vem trabalhando com arte, Rainha F investiga a romantização cisgênera do amor romântico, imposta por essa forma binária de enxergar as performances de gênero. A qual retira, sobre tudo do corpo negro travesti, a possibilidade de acessar o que se idealiza como indispensável nas trocas de afeto. Com isso, todos os códigos e vestimentas de uma noiva, são inimagináveis para uma travesti que está buscando se dissociar do lugar de solidão a ela relegado e que busca construir o que é sua idealização do afeto. Nesse sentido, no que tange à contemporaneidade, busca justamente inserir a ela, a subversão desses valores binários, usando desses símbolos que são destinados a corpos específicos.
Sobre sua participação na exposição a artista comenta,
“É muito importante e simbólico para mim, pois homenagear a Lacraia é também homenagear minha infância (Lacraia, fez sucesso no início dos anos 2000, quando era parceira musical do MC Serginho). Contribuir para a ressignificação e valorização de uma travesti preta que foi violentada tantas vezes, entendendo que estar no mundo funk estigmatizou ainda mais este corpo travesti negro, me enche de alegria. Estrategicamente, uso meu próprio corpo e de outras travestis negras potentes, para afirmar que aquilo que usavam em nossas infâncias para nos depreciar, como se ser comparada à um dos grandes nomes do funk carioca, por ser uma travesti preta, fosse demérito, hoje aponto, junto àquelas que exemplificam o que é a excelência nas mais diversas áreas, que o corpo travesti sempre esteve à frente, no que se refere a resistência, ousadia, liberdade, beleza e poesia. Com isso, ouso dizer que ser uma travesti preta, representa em muitos aspectos o que é o próprio funk”, concluiu.
No fim da noite ainda rolou o baile funk no Pilotis do Museu com atrações como Jonathan da Provi , MC Cacau e Afrofunk Rio.
A exposição continua aberta ao público de quinta-feira a domingo, das 11h às 18h com encerramento previsto para julho de 2024.
Pedro Vinícius Lobo
Jornalista